quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
naquele ponto
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
sonhos brumos II
terça-feira, 18 de outubro de 2011
A Festa da Noiva Desdesposada
foto de Irina Ionesco |
Essa história foi uma velha que vende óculos na rua do Ouvidor que contou. Sabe a rua do Ouvidor? Fica no centro do Rio de Janeiro. Da barca que cruza a baía de Guanabara, você consegue pegá-la até o Saara. A velha fica numa dessas esquinas da vida, sentadinha com olhar perdido, como fosse uma cega, mas vende óculos.
Passado algum tempo, despontou dali a noiva... belíssima em seu olhar de noiva, o vestido de princesa, mangas bufantes, tules, rendas, transparência de sonho... o cabelo ornamentado de galhos e flores silvestres. Aaaaaaaaaaah! Primor de mãos amorosas. As mulheres suspiravam uma atrás da outra.
Não escutava uma palavra! Como se em ínfimos intervalos de tempo lhe alfinetassem minúsculas agulhas agudas e quentes na cabeça. Em maresia apitava numa espécie de limbo. Alheia a qualquer psicologia da cerimônia. Começou a andar pesado, arrastando-se. Empurraram-na de soslaio no meio da igreja lotada. No tapete vermelho sangue ao som de violinos, violoncelos e vozes líricas, não haveria retorno. “Vai menina!” Sopraram ao fundo. Ela andava homeopaticamente penitente com uma ânsia inenarrável de arrancar tudo, penteado e roupa. Despir-se daquele desespero. Pungente e verdadeiro. Seria o prenúncio da dúvida? Não! Era corpóreo, visceral. Só ela o sentia, descontroladamente a vertigem tomava conta de seu corpo, a visão turva, pernas moles involuntárias...
Levaram a noiva para o hospital e no caminho, já estava morta. A festa da noiva morta, menina amante morta! A morte nada prematura foi descoberta no hospital. Primeiro, começaram a despir a noiva. O vestido de infinitos botões um a um, anágua, meia, sinta, nada.... A desfazer o penteado de galhos tortuosos e flores morta-vivas. O cabelo ia desfazendo-se lentamente... e com mechas pesadas a laquê... caiam lacraias gigantescas. Sete lacraias grotescas e insaciáveis dilacerando o couro cabeludo da noiva. As peçonhentas escorregavam pelo rosto. Agitadas pela luz fluorescente cavucavam furos profundos na pele. Proliferando em ninhos umidamente complexos na cabeça de madeira podre.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Você viu aquele seriado, os aspones? Com Selton Melo.
Sei. Repartição pública
Olha... igualzinho! Era na rua da ajuda, uma ruinha no centro perto do castelo. O prédio meio velho, mal cuidado. Fui pegar o elevador. Quando entrei, a maquinista sei lá, era uma anã. Não por isso, mas estava naquela cadeira gigante com os pezinhos balançantes. Eu disse: décimo quarto, por favor. Ela apertou vários andares. O elevador subia até o dezessete. Mas lá pelo quinto andar, nossa primeira parada, saiu gente e tinha um senhor parado à porta. Ele perguntou: desce? Ela disse que sim. Nos entreolhamos estranhamente e seguimos. No oitavo, outros passageiros desceram e quando duas senhoras perguntaram: desce? a mulherzinha disse sim. No décimo, a torcida para baixo era bem maior e quando um senhor entrou perguntando se descia, as portas fecharam e o elevador começou a descer. Não sei porque aquilo me deu um acesso de riso que abafei com a mão sobre a boca. Eramos quatro sem conseguir alcançar o destino. Uma mulher meio alterada (nessas horas sempre tem um transbordamento) disse: oh! minha filha, o elevador estava subindo, eu tenho hora, não posso ficar passeando não. Achei mais engraçado ainda e saiu um esparro fugitivo tipo um sopro mal direcionado, a mulher me olhou com olhos fuzilantes. Lá pelas tantas, o elevador retomou a subida. Pensei se um dia ele voltaria ao chão, talvez não, porque na concepção daquela maquinista ele sobe e desce para sempre nesse movimento, nunca para. Acho que na concepção dos maquinistas do mundo inteiro é assim, a caixa de metal sobe e desce, nunca para, é a maneira mais próxima de iludir alguém ao céu. Teve até um momento que o elevador parou, não recordo em que andar, ela com a cabeça inclinada perguntou: desce ou sobe? Por ela, seria capaz de atender a todos os desígnios de caminhos traçados a um só tempo; do sobe e desce...
No andar, um corredor distante tomado por um roda meio de madeira maciça. Andei andei andei até alguém se compadecer: aonde vai? Para FDGR, não não, ABYG... (uma daquelas siglas esquisitas, que quiça não quer dizer nada ao certo). Entrei na sala, pessoas taciturnas comendo bolachas mareadas pelo som do ventilador de teto, artigo pré-histórico que compunha bem o lugar de nevoa sebosa. Pilhas de papel amarelado formavam pilastras gigantescas, alicerces na iminência de uma catástrofe nada prematura. Fiquei em pé algum tempo olhando invisível, nada interferiria na perfeita conformação daquela cena, entidades de cera cristalizadas pela matéria insolúvel do dia-a-dia. Questionaram-se entre si, quem é essa aí? Eu disse, sou estagiária, preciso de uma assinatura do Sr. Chefe de vocês. Questionaram-se entre si: quem é Sr. Chefe? Não sei, pode ser aquele que fica na sala ao lado. Ah é! Então vai lá. Vou não, ele é muito ignorante, vai você. Entrei na conversa: eu posso ir? Não! Nem pensar (suou uma gargalhada sarcástica da mais gordinha que mordia o canudo do guaravita fazendo transbordar gotículas na papelada deitada à mesa). Uma delas foi. Na verdade, suspeitei se nem ao menos chegou a ir. Foi tudo tão rápido, ela saiu pela porta e voltou. Como se tivesse parado o tempo, como se tudo no momento lhe pertencesse, o tempo estava a seu lado, tamanha a sutileza da parada imperceptível, quase espectral. Chegou e disse: deixe seu papel aí, ele está em reunião, depois assina. Olhei desconcertada aquelas pilastras de papel pensando se um dia, quando estiver bem velhinha, com os ossos fracos e as articulações perdendo a esperança, eu reencontraria aquele documento envelhecido, puído, sensível ao toque. Alguém diria ao tentar lê-lo com a pinça antes que desintegrasse em micropartículas brilhantes empoeirando a sala e atiçando alergias adormecidas, que ficou anos exposto ao sol ou mergulhado em limonada suíça ou até casado com um grilo não mais cantante na gaveta. Imaginei uma senhora distinta, porém carcumida pela culpa de saber a verdade, nunca recuperaria aquele papel, aquele maldito papel assombraria sua vida eternamente, fazendo-a mergulhar numa rede diabólica. Mal registraria o fato do serviço público ser assim mesmo; todo dia infinitos papéis perdem-se na vastidão de um universo com realidade desconhecida, incompreensível. Viveria peregrina esperando encontrar um novo sentido para sua fútil passagem pela existência, teria certeza, se tivesse recuperado aquele papel tudo seria diferente, obedeceria as exigências de si mesma, de alguém que vai e faz, capaz de conseguir uma assinatura, uma simples e ridícula assinatura, como pessoa, como cidadã, uma só assinatura, uma só uma e a burocracia vai...
terça-feira, 13 de setembro de 2011
sonhar é
o verme insalubre da insônia ataca novamente, as imensas garras envolvem as têmporas fazendo-as arder em prazer inenarrável, desfaz-se o véu das convenções noite-dia-dia-noite, quem possui a chave e seu segredo? a vigília para sempre sendo para sempre ela e só ela sempre para o corpo que clama por movimentar-se alheio ao mundo que dorme, alheio ao código impetuoso do sono, descrente da saúde como aliada do dia e divorciada da noite, noite bela, lua azul, corpo imóvel, cabeça intempestiva... olhos arregalados na escuridão do quarto, única luz, base fluorescente de prata do olho de gato, duas luas perdidas no espaço, temerosas pelo corpo inerte no casulo de edredom... as horas badalam badalam badalam o eterno-retorno do vício do tempo, e as chagas nunca morrem, não se vão, ficam, regurgitam sabedorias milenares, histórias que nunca deixam de ser contadas, histórias regentes da existência do mundo, histórias histórias histórias inventadas, seja uma lenda, um romance, uma saga, qualquer coisa esclarecendo o que no mundo circula e o é.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
A lenda do pênis de lápis e da buceta mil folhas
quarta-feira, 27 de julho de 2011
é o mistério mais impressionante, maior no mundo, coisa mais fascinante, tesouro mais difícil de encontrar...
Essa é uma história que minha avó sempre me contava. Vou tentar contar como ela fazia: "minha filha, não tem mistério mais impressionante, maior no mundo, coisa mais fascinante, tesouro mais difícil de encontrar... do que um guarda-chuva. Essa história é boa pra dias de chuva... e pra dias sem chuva também, porque se a gente pensar, um guarda-chuva mesmo, não guarda a chuva, que, na verdade, sai pingando e escorrega por chão, não é mesmo?
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Symphony - Erick Oh
terça-feira, 5 de julho de 2011
Templo dos sonhos
sábado, 4 de junho de 2011
o velho, o menino estranho e o cachorro das rosas azuis
quinta-feira, 26 de maio de 2011
um dia no salão
sábado, 30 de abril de 2011
verdade para além-verdade
O corpo sem cálculo de pensamentos. O rosto figurava um nada angelical.
Foi quando de repente impunemente subitamente desesperadamente...
do pai-de-todos lhe foi usurpado seu anel inoxidável.
Ela, desesperada, inventou falsas verdades, épicos mirabolantes, tudo para satisfazer-se a si mesma... princesa decadente... e a seu pai... um homem mau!
Já o anel fora comido por um peixe, que enojado com o gosto apedrejante, cuspiu-o na terra em belíssimo voo flutuante. Voo de peixe, guelras de peixe, olho de peixe...
Sementes de maçã germinavam naquela terra. E a seiva madrepérola da árvore ressuscitou o anel, que floresceu e alojou-se num fruto, o mais pomposo e suculento fruto... o mais vermelho!
Algum tempo...
E um príncipe estrondoso estava a fazer cooper ao lado de seu cavalinho pela região. Encantou-se com o maravilhoso pomar. Nunca vira coisa mais encantadora de minuciosidades... Para saciar a fome que o arrematou pelo olhar. Arrancou um fruto... pomposo e suculento... o mais vermelho!
Ajeitou-se e mordeu a carnuda maçã.
Poow! Quase perdeu o dente, mas encontrou o anel.
Subitamente pensou – como príncipe estrondoso que era -: "pelas barbas del rei... com este anel... poderia morder as maças de uma donzela"
quarta-feira, 27 de abril de 2011
terça-feira, 26 de abril de 2011
menino que tem a rua toda para si
os olhos do menino de expressão fugidia
sábado, 9 de abril de 2011
o louco acha que é são, mas eu sou louco
quinta-feira, 7 de abril de 2011
o gosto salgado do mar de lágrimas banhado em sangue
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Coreto de Piranga
segunda-feira, 4 de abril de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
o fazendeiro de dentes só fornece para fadas madrastinhas
Meu sobrinho apareceu sem uns cinco dentes na boca (é! também não dava pra ser em outro lugar, neh? Não iam ser de alho ou de pente)
Que é isso menino?
Ele me contou que tinha sonhado com a fada do dente. Achei meio estranho aquilo.
Tia, minha mãe disse um dia que meu dente caiu, que se eu colocasse ele pra fada do dente, ela me dava uma nota de um real. Ai eu falei: mas mãe, não tem mais nota de um real. Então ela deve dar de dois. Ai fui dormir... caraca, dois real por um dente podre... Quando a fada veio, quis dar o dente pra ela, mas ela disse que só tinha uma nota de dez, perguntou se eu tinha troco. Falei que não. Ai ela disse: você quer adiantar uns dentinhos? Quanto eu ganho? A nota toda...
(contou nos dedos) Claro! Dez real!
Acordei quando cai da beliche.
quarta-feira, 2 de março de 2011
na estrada cabelos ao vento diluviando as possibilidades da noite. estrelas gotejam umidamente nostálgicas... Te quiero!! soam castanholas atrevidas nas mãos da estupenda bailarina flamenca!! porque sou ciganaaa aaah...
domingo, 20 de fevereiro de 2011
a lenda do prédio verde-meleca. Porque o E.T não morreu!
Boa noite, telespectadores!
São 00:10.
Estamos aqui na rodoviária de Conselheiro Lafaiete, cidadezinha do interior de Minas Gerais. Daqui podemos ver em primeiro plano, o prédio mais famoso da cidade.
Há muitos anos atrás, conta a lenda, que esse prédio fora abduzido por extraterrestres não identificados. O prédio de treze andares sumiu inexplicavelmente por algumas horas. Pesquisadores de diferentes áreas e ufólogos do mundo inteiro tentaram decifrar o mistério, mas até hoje, nada foi descoberto.
A lenda do prédio verde-meleca perpetuou-se devido a marca deixada pelos visitantes do espaço. Uma linha de plasma intergalático, verde-meleca, corta o prédio inteiro do chão até a superfície. Realmente um fenomeno bizarro que atrai turistas do mundo inteiro.
(música do arquivo X para fechar a matéria)
Entrevista com o síndico do prédio (em vídeo no youtube):
Revista Plutão Para Sempre
O Senhor já notou alguma coisa estranha no prédio?
Síndico que não quis se identificar
Uma vez um garoto quebrou toda a portaria com um martelo. Estava muito nervoso.
RPPS
Isso teve alguma coisa a ver com o prédio ter sido abduzido?
Síndico que não quis se identificar
Quando aconteceu, todo mundo ficou com muito medo, medo mesmo. As pessoas do prédio achavam que tinha alguma coisa sim. Porque quase todo mundo já morava quando o prédio foi levado pro outro planeta, mas ninguém sentiu nada. Aí, na outra noite, a listra verde-meleca já estava no prédio, assim de repente, do nada, como mágica de mágico... e o menino; depois a gente soube que não foi nada disso não.
RPPS
Descobriram o que foi?
Síndico que não quis se identificar
Sim.
RPPS
O que?
Síndico que não quis se identificar
Não sei se pode falar aqui não.
RPPS
Pode sim, materemos total sigilo tanto para o senhor como para o menino.
Síndico que não quis se identificar
Ah sim! Ele acordou de noite com muita vontade de ir no banheiro. Quando entrou no banheiro, que estava escuro, sua avó já estava fazendo as coisas lá, sabe? O menino ficou doido, garrou o martelo e desceu de cueca mesmo. Ele quebrou umas coisas da portaria, já que o porteiro ficava trancado no quartinho dele de madrugada. O porteiro, Zé, tem um namorinho com a Dona Terezinha, mas ninguém pode saber, porque ela é casada com Seu Tomás... mesmo assim todo mundo já sabe. Ela é muito boa com Zé, leva almoço todo dia, docinhos, um monte de mimos...
RPPS
Obrigada Senhor síndico, o senhor ajudou muito mesmo. (o repórter foi embora perplexo e cheio de histórias para contar)