ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

terça-feira, 26 de abril de 2011

menino que tem a rua toda para si


Meninos de rua por Eduardo Dias Gontijo

os olhos do menino de expressão fugidia
diziam algo que eu não entendo
entre carros ferozes, vielas desmedidas, sinais quebrados, radares eficazes, vidros fumê, pontes de plataformas enferrujadas, cabeças cabeças cabeças cabeças ................................. tudo fica como está, quem sabe?
pernas caniços marcadas com as chagas da vida do menino que já nasce homem
desperta distante da terra do sonho, da pipa, do algodão doce, do carrossel
conhece o isopor, a pele, os gritos desaforados, o troco do dinheiro pingado, a ignorância alheia
tem dia que o craque, o engolir fumaça e desgraça, cola, o dormir na vala, a falta de tempo e identidade, o murro na cara, sopa de pedra, fedor, solvente, fraqueza 
a feição não muda queimada de fome e de sol, sol carrasco, olho do cão, encontro com o diabo, com a sobrevida, com o dia após dia que o obriga a encher barriga e esquecer a bola, a pipa, o algodão doce, a travessura
obriga a viver ali para sempre, menino expressivo, o rosto bem marcado, pele enrugada por dez, 10 anos de sofrimento
menino que já nasce para morrer, menino de rua

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