ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

o lado inesperado da sombra



assustei-me com o tamanho da sombra que projetou-se na parede. era obscura com proporções de figura mitológica
a garganta rachava como se fosse o chão rubro do sertão, rachava em cruzes diagonais
pontiagudas
felinamente em brasa
a ardência do seco, do ressecado
o desespero do mal-estar físico apoderava-se do meu corpo
tremia naquele absurdo de não saber exatamente aonde estava

navio de pedra outrora fantasma, vagando indeciso, em marés de chocolate tão sujas mais tão sujas, que de chocolate o petróleo subia aos olhos
de quem vê e de quem sente
animais cristalizados sem saber a qual tempo pertencem, porque no fundo daquele mar não pertencem a nenhum lugar, não-lugar... quem sabe?
continuo vagando e o vento assovia a aurora, que chega inútil, infantil, obsoleta
esqueceu-se que há muitas décadas perguntou: e quem vai lembrar de mim? Ah sim! estão vendendo encaixotada ou em lata,
ai fica mais barato.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

tinha uma história que nunca começava porque não tinha nome ou será que ela não tinha nome porque nunca começava?
mas isso virou o mito da história que nunca começava porque não tinha nome
nela, um locutor de rádio recitava poesias
as poesias dele só podiam ser ouvidas por ele com o ouvido direto
se ele ouvisse as poesias com o ouvido esquerdo, saia se arrastando por ruavenidas representando tudo que dito era na poesia.
ele já sabia
ele já sabia
se arrastando por ruavenidas espantalho enigmático clarividente o quão importante era ouvir as poesias que recitava com o ouvido direito
porque quando esquerdo
nunca mais voltava a ser como fora aquele dia mesmo

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

ah não... 6h, ai puta que pariu!
ai xixi! banheiro caminha gostosa o despertador só vai tocar 10 pras 8. graças a deus!
que isso? d’aonde veio essa terra? (dois montes de terra tomaram o lugar da cama) e a televisão que não desliga. Porra! já vi o filme, passa numa pedreira. flutuava na pedreira como imperceptível fumaça de pedra, pó translúcido de cristais incolores, só cristais.
olhou o relógio de novo, tinha medo da hora, às vezes ela não despertava.
manhecendo. tudo é tão rápido em pé como muito o divagar deitada.
10 minutos
o barulho do ventilador parece atrasar o relógio, morno, ventilava do jeito que são feitas as coisas desinteressadas.
esqueci aonde estava, tentei subir aquele monte de terra quando pisava meu pé sumia naquele universo movediço de água turva da terra.
A televisão chiava, mesmo assim não conseguia enxergar a tela inerte, via minúsculas partículas de luz que adentravam pelas fretas da madeira, felizes por anunciar um novo dia, que além de novo era lindo. Vejo o azul sereno através das pálpebras fechadas. Nua em corpo etéreo me aproximei da porta envidraçada, lá fora tudo estava mostarda e um rio de chuva fluía imponente pelo jardim ostentando arvores centenárias e derivas de uma época. A vida deve ser exata.
queria ficar em casa dormindo quase uma eternidade, mas o relógio só 10 minutos.
no quarto encontrei uma bateria preta, meio quebrada, os pratos jogados, o som rarefeito por janelas e becos e desejos de saber d'aonde vinha a magnífica melodia?
Toquei,
mesmo sem saber...

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Quando o chocolate acaba é foda


a menina foi desligar o rádio decidida sozinha ia pra outro canto
cigarro de cravo única janela aberta
de costas o rádio tocou de novo o cigarro apagado cinza de faca alto-falante
largou a faca tapou os ouvidos com mãos enormes de medo sozinha ia pra outro canto
ruídos compassados do chão imundo de cacos escarros cores amassadas ressequidas
pássaros ensurdecedores gritavam batendo pratos de folha, o céu assim amarelo traços de laranja escorregavam macios e mornos quase água termal
involuntários ombros subiam batiam arritmados anti-música nó cabeça envergonhada
olhos fundos fúnebres de dentro encharcados, um lugar de
vai saber o querr xiiiiiii era o rádio tocou e ninguém sabe o quiiiii
um farol cinza de faca estrondou pelos ares um som gravexixxx
longa vigília perseguida pelo giz das anotações – chiado estranho
o chão escorregadio
pedra incrustada vermelho sangue destemido aterrissando sobre o tapete veloz

silêncio

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

beijo obtuso

hoje acordei com marteladas profundas na cabeça, é que estão fazendo obra em casa
melhor seria se a obra fosse obra da cabeça, porque ontem pensei muita coisa interessante como sempre na hora de dormir, sem dormir para pensar coisas interessantes que no dia seguinte sei que não sei ao mesmo tempo
será que armazenamos cada coisa interessante que pensamos e depois em algum tempo da vida, em algum momento crucial para nossa vida essas coisa interessantíssimas aparecem e resolvem um problema que assolava a humanidade
é, acho que se essas coisas interessantes fossem tão interessantes assim, nós lembrariamos a qualquer tempo
uma vez eu vi uma reportagem numa resvista, provavelmente de neurologia, não, é claro que era de neurologia! se bem que poderia ser só de saúde mesmo; então, lá dizia que cérebro, às vezes, guarda coisas sem importância em detrimento de coisas importantíssimas, por exemplo, acredita que esqueci o nome do menino que me deu o primeiro beijo? o beijo foi uma merda, mas não chegou a ser um trauma e mesmo assim esqueci o nome do indivíduo, por outro lado, lembro perfeitamente do primeiro garoto que dei uma bofetada, foi incrível... direita esquerda pá pum!
talvez não seja tão importante um beijo merda, e sim uma bela porrada bem dada.
veja lá o que acha importante, vê se não vai sair por ai esbofeteando as pessoas, até porque, tenho reparado que as pessoas acham importantíssimo agredir e não se interessam em beijar
estranho...

domingo, 20 de setembro de 2009

varanda pra que te quero

na varanda uma garrafa de água e um cigarro forte de cravo, as pernas dobradas em joelhos nas orelhas, quentes de ouvir mal... mau agouro mal emporedrado poroso verde-azulado, mais mau que o bom.
ninguém sabia, mas também o que poderiam saber? que dou saltos maiores que as pernas?
pernas...
que pernas? é o caralho! não aguento mais isso não
achar que poderia autorizar todas as coisas que acontecem, como se acontecessem por mim e não por elas, elas que se fodam eu sou a melhor, sou a controladora dos vegetais que chegam escondidos mais chegam, sempre chegam, coloridos, demais
a varanda é linda pratiada escorregadia, milhões de anos se passam e são iguais, quase iguais todas as varandas. e eu? pra que vou querer uma varanda? lugar que não merece todos os passos. para
madeira demarcada na boca do estômago. perâ ae! vou fumar um cigarro e ver se ainda tenho estômago nesse tempo que para ter estômago tem que pagar, engraçado? fuma ai.

sábado, 5 de setembro de 2009

na cama a gente goza, na cama a gente nasce, na cama a gente morre; já dizia um sobrenome Dourado e quase mórbido

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

água salgada ou clorada pesa mais

meu computador tem falhado ultimamente, as placas que deveriam arquivar os arquivos estão desarquivadas, mas existe a rede, enredada sigo simplesmente pelo fato factual.
são só palavras perdidas no vão da memória viajando sozinha.
um dia volta
quem sabe?
num campeonato de bombas d'água, mergulhos desafiando a gravidade liquefeita
já não sabia e me encontro
perfuro a pedra densamente existencial, já não me lembro... é como ir à caixa de correio e querer saber como vim parar aqui? de onde eu vim? aonde?
não existe mais casa, lugar
a imagem do espelho é outro;
outro, e conversaremos com afeto até quando?
imobilidade de pedaços espalhados, espelhados, visão que todos vêem e não sabem que vêem, ou não dizem ou não sabem dizer, sentem errado. será?
só lembro que esqueço e esquecer é preciso para não se perder em espaço vazio.
coisas importantes, importantíssimas pulverizam-se no ar.
só resta uma coisa
cogitar se a água do mar é mais pesada que a água da piscina.

sábado, 15 de agosto de 2009

é castanha do pará, açai pra mastigar,
tucupi no tacacá, siriá no carimbó, carimbó no siriá

Venho de Belém...
Emocionei-me, inestimavelmente, perante paisagens tão sossegadas, tão demarcadas por uma imensidão de águas marrons, que contrastando com a terra de um outro marrom, simulavam a fluidez do chão. Um chão fértil, agraciado pelas frutas de todos os cheiros, gostos e cores. Frutas que tornavam nossos caminhos deliciosos e cheios de texturas.
Pensei nisso de amar as texturas. De morder a suculenta carne de um caju, ou abrir a vagem do ingá para chupar suas admiráveis frutas minúsculas, que vinham aos montes, tornar-se-ia, quem sabe, uma obsessão.
Poderia viver ali para sempre, mas nem todo o sempre me faria entender o que era viver daquela vida. Acordar naquele universo, aonde a modernidade chega esmagadora, impondo à casas sem portas nem janelas, um aparelho de televisão a cores e uma roupa no crediário.
Geladeira? tem não! é peixe com açai, farinha de mandioca e camarão do matapi
Banheiro? duas moitinhas à direita e prummm
Diziam que a vida era triste...
E curar a melancolia com uma realidade inalcançavel? Não é triste? É patético!
Arrebenta os nervos, porque eles nunca saberão se existe um mundo para compensar aquele. Aquela miséria poética, aquela miséria em que o sol nasce e se põe numa imensidão de águas marrons, cristalinas e doces, tão doces como os peixes que a habitam, e que não sabem mais nadar.

MUUM

sexta-feira, 3 de julho de 2009

invisível vaca arcaica

ah... como me sinto bem!
sentir no erro consentimento
o despertar para a vida, o sonho
a existência

(inspirado por ignotaprova de alguém que não prova nada)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Beneditu sumiu

Vai seu Benedito

– Tá boniitu... vai faze exami di feze?

– Ora... vá à merrrda!

Benedito seguiu pensativo

Na cabeça de Benedito: será que ele tá falando porque sabe? porque oviu?

Minha nossa... aquela vaca disse que não ia faze fofoca! Puta que....

Falou di exami di feze. Fezes. Por quê?

Passo pelo mermo caminho, tava me tirando pra marica, me sacaniando. Aquele cabra de uma figa! Com um tanto de cabelo branco, já deve te passado pela vergonha...



O carro em alta velocidade

BIBIIIIBENNNN! OLHA A RUA SEU VELHO MALUCU!

– BARBEIRU FILHA DA PUTA, BANDALHEIRU! COMPRO A CARTEIRA, SEU DESGRAÇA!



Benedito seguiu pensativo

Quasi ralei meu cú nu chapiscu. Ai meu deus! faz isso comigo não, me dá um sinal, só um sinal... isso não ta certo! um homi que nem conheço invadindo minha intimidade, minha coisa di machu...


Dona Maria

na cabeça de Benedito: – dexa di fala bestera Benedito! Já marquei sim! e você não vai sumi coisíssima nenhuma. Ah... para homi! Cê tá com medo de disfaze a masculinidade? Si garante não, homi?

– mi garanti? ... ai meu deus! é aqui. Largo das flores, 747.

O homem entrou andado simplesmente

– Senhô! Senhô... tenque dexa indentidade. – desesperou-se o porteiro.

– identidade uma ova. – resmungou Benedito entrando no elevador.

Benedito parou pensativo

Acha que eu queru me identificá? quiria mermo era tá de disfarci, coisa meio 007. Mas aqueli cara não... era machu!

Tinha que sê 402... Olha, sabia! É númeru di viadu, o cãnalha boto au contráriu só pros otárius não repara.

– vô imbora agora! Tá pensandu que vai me açoitá, tá muuuito inganadu.

Surge um senhor de fraque salmão

– Posso ajudá-lo? O senhor deve me perdoar, estava almoçando e regressaria logo logo. Esperou muito?

– quem eu?

– É! o próximo paciente, não?

Benedito olhou para baixo e percebeu que o homem tinha uma perna maior que a outra, voltou a olhar para cima e reconheceu aquele olhar.


– Nadinho? É você?

– Benedituuu...

– ham! Que dize que tu viro médicu? (no bom sentido é claro!)

– xiiii! Entra ai.

Entraram ambos felizes e sorridentes. Até a secretária entortou o nariz para tamanha alegria naquelas circunstâncias.

Conversa vai, conversa vem...

Benedito fez o exame

– nem foi tão mau assim... mas não conta pra ninguém não, hein oh? Nadinho Boca Mole. Hahahahahahhahaa.

– Segredos da profissão! Vô ti dize que uns até se perguntam por que nunca experimentaram antes...

– Disconjuru!!! Cambada de baitola...

– HAAAHhhahaha! Não precisa ser com homem, né oh?


Benedito pensativo...


– Então... Beneditu, foi muito bom te encontra. Ééé... Já que mora aqui perto, o que acha de almoçarmos amanhã? pra botar o papo em dia.


Benedito pensativo... e de boca aberta...


– tá doidão? é Zé Machão! HAHAAAahaha!

Agora lembrei! Era assim que a galera te chamava Zénedito. Sempre com a mesma cara, o mesmo olhinho.

– Ih! Sai fora Boca Mole. Cê também não é das maiores beldades.

– Enfim, tenho um paciente agora, e o almoço? Pode ser?

– Mas é claro! Quero saber como cê entro nessa bocada de médicu.

– então até amanhã. Fica combinado 13h.

Nadinho Boca Mole levou Zénedito até a porta como nos tempos dos jogos de botão em seu quarto.

Bons tempos aqueles... Benedito desceu aliviado como se tivessem tirado uma bigorna das suas costas.

– Quem diria? Maria Louca não vai acreditar quando eu contar.

Dona Maria Louca

– viu só? Sabia que num ia tê male algum! Vô passa seu terno pra amanhã cê ta bem bonitão... meu maridão importantão!

– muuitu bem mulhé, vai cuida do seu maridão importantão!

Enquanto isso... Benedito parou pensativo

Boca Mole... quem diria? meu chapa. Amanhã vô sabe como ele viro médicu... ops! Pêra ai! Ele é meu urologista. Meu deus! Sai fora, não posso almoça com esse homi. Ainda mais amanhã, vão dize que gostei. Zénedito seu animal! Burro pra caralhu! E agora?



No dia seguinte, Nadinho ligou para a casa de Zénedito para saber se estava tudo bem

– Alô! Por favor, o Seu Beneditu esta?

Dona Maria

– Beneditu sumiu!

terça-feira, 9 de junho de 2009

escrever na fugacidade dos séculos
só se for em arabesco
trançado a finas tramas
tecido de formação

quinta-feira, 14 de maio de 2009

GOELARDENTE


goelardente goelardente goelardente
goelardente goelardente goelardente

Um hotel de infinitas facetas
corredores ignorando horizontes
Cada canto um arranjo peculiar
Chão de rabo de pavão, paredes discotecadas, aromas afrodisíacos exalados por plantas exóticas e tropicais,  pessoas cristalizadas em carros alegóricos, boás, marabús e estolas, lantejoulas, bolhas de sabão... é carnaval! (bad trip) quitutes da casa da vovó, barmans pretos, gregos, todos nus, ostentando suas oceânicas serpentes em bandejas e servindo drinks caleidoscópios em vidros coloridos.

Lá fora era só neve, tanta, que a paisagem era uma fotografia em papel couché branco brilhante – ruína da história que se passara.
Para mim ainda não há passado
O tempo insólito deita sobre mim sua gosmenta e movediça sombra
Confinei-me a viver para sempre, ali
isso...
se a reinvenção de algo que nunca vai deixar de ser
existir realmente

Jofrey, por favor:
um drink no inferno.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

ele ligou de novo.
digo sim, digo não?
...é
o amor tem dessas coisas
um não sei o que de librianos

segunda-feira, 13 de abril de 2009

venenosa e doce

ou chamamento deSamor de Bruxa


ávido desejo de espera

eis que caiu a noite

uma madrugada fria

por não estar distraído pisou em falso, manipulando

curvas e aromas e delícias

o veneno escorreu; sentiu desabrochar o antídoto (oposto extremado de forças límbicas) de metabolismo voraz

inseto invasor de flores

a planta carnívora ataca e o engole lírica, amorosa.

doce fel dos desamores sem nome, sabor de não deixar-se distraído e não dizer...

profeticamente nomear o caminho amaldiçoa o errante – erra pensando naquele reflexo do nada inominável.

ai liberta-se da verdejante fonte que nutre e não cessa

perpetua-se venenosa e doce

sábado, 11 de abril de 2009

vem comigo, no caminho eu te explico...


indefinido sem saber ao certo em qual traço me traço.

um invólucro de chamas remediadas aceleram o ser que há em mim

fonte do que não era – nunca devia ter sido.

unidade indivisível da expressão, o estômago embrulhado de papel crepom dolorosamente descolorido.

não devia ter me metido a fazer o que não era para ser feito.

é o caos!

sou o caos...

organizo no centro partes estilhaçadas de uma mesma coisa

antes múltipla; agora retalhada.

esfumaçado ando, ultrapasso pontos de vista, derivações, poderes; paredes indefiníveis de um tijolo unânime.

tem uma cabeça de macaco na ponta do meu lápis. escreve intenso sem saber se é de hoje que começou a pensar em símbolos; psicografar saberes inconscientes reunidos em um lugar ou não-lugar.

a escolha é fria, ávido desejo dos ventos, sentimentos invisíveis retos batidos inalados em absorção sem fôlego.

trôpego desço aos confins do universo

um invólucro de chamas remediadas aceleram o ser que há em mim

incrédulo olho para o céu de um banheiro no submundo (que é o meu) a luz fria ardente de partículas embolotadas.

paredes raspadas pelas unhas de animal dopado escancarando face, segredo incorpóreo desatando mascaras malignas sociais.

ato ou efeito de incrustar-se com comportamento limoso, escorregadio

vadio ao nada.

malandro dos becos ilustres desviando da linha reta; obliquamente a um plano ou uma direção.

me faço traço!

um grito incontido me arde a garganta – não – mais uma só mais uma...

uma verdade verdadeira, umas caras de esculacho.

sf. 1. Ação de atormentar, de perseguir. 2. Psiq. Sentimento ou ideia que, gerando angústia, se impõe à consciência de um indivíduo. [PL.: -sões.]

obsessão, me diga se entende melhor?

sf. 1. Pesar de ter cometido ação má ou pecado. 2. Pesar profundo. [Pl.: -ções.]

não é o que você esta pensando

esta pensando em compulsão, não é?

é isso,

mas errou,

eu errei e só achei compulsivo – que compele, irreprimível.

compulsório – que obriga ou compele.

é! fomos compelidos a acreditar que compunção (é isso idiota!) compunção e não compulsão...

vá ao dicionário, até você pode buscar essas definições de merrda da grande bosta social.

vai,

até você pode ser Aurélio.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Entravamos na casa pela primeira vez.


Era como um sonho: uma porta maciça se abriu...
logo pisamos em azulejos perolados.
Móveis imponentes, coloniais.
O ambiente era climatizado a óleos essenciais de rosa branca, gerânio e cacau.
Deliciosamente agindo no cérebro, sistema de engrenagens límbicas.
Guardamos nossos instintos primários, silêncio de vontade, introspecção.
Nebulosidade.
Do ápice da escada para o centro do hall desciam triunfantes as quatro senhoras, com vestidos floridos e tão coloridos quanto a natureza pudesse suportar. Porque a natureza não era ser bela e sim, elas.
Lançavam-nos olhos curiosos - secreto assombro de tias.

- Que casa magnífica! Parece um castelo medieval.
Moram sozinhas aqui?

- Sim

Olhávamos um para o outro como se algo nos inquietasse.

- é que nunca demos as mãos...

De fato, reparamos que cada qual tinha exatamente duas mãos desaneladas.
Inalávamos entorpecidos de sensualidade e auto-estima.
Seriam elas casais?
agindo, portanto, de maneira indireta como convenientes tias.

Vencendo o medo e a timidez, ele disse com voz empedrada:
- As titias são unidas por laços desatáveis, laços consanguíneos.

Forjavam o mistério das mulheres autossuficientes. mulheres de seio ancestral, equilibradas em vigília eterna; feiticeiras mumificadas no tempo.


Sozinha, tocava-me um sentimento alheio.
Inspirava esfumaçadas lembranças guardadas numa região inefável.
Comecei, de repente, a ponderar as coisas, como nunca; nunca antes.
O que estava acontecendo?
Sentia um tipo de mudança hormonal intensa, como se o cheiro exalado pelo meu corpo mudasse decisivamente.


Confissão:
contorceu-me uma hipervisão insatisfeita, não mais o olhar suave de antes.
Ele borrifava desconexo aerossóis desconfortáveis - quilos e quilos de glândulas selvagens.
desfiz-me surpresa naquele etéreo sinal.
Não era nada, só a certeza do erro.
Porque o despertar afrodisíaco deve partir de íntimos fluidos.
Coisas secretas do amor!
Corporificação
Ou não podemos dar as mãos...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

devaneio em 40segundos


No desconhecido é aonde tudo acontece. as Influências são invisíveis; não percebemos o traço instintivo da busca. Buscamos, sim. Pelo simples fato de buscar alguma coisa. Completar algo que não se completa, algo incompletável. Somos pela metade. se ser fosse holístico, não seria ser e sim, seria... é!

HAHAhahahahaha!

Indefinidos por um alfabeto volúvel, que se altera pela vontade de quem? Também não sei, ora bolas. de terceiros, quartos, quintos dos alteradores de discursos. Que há séculos atuam desconstruindo mentes seguras de si. transformando tudo numa roda-gigante de um parque enferrujado, sem alvará e no interior de um lugarejo.
Renunciaremos à diversão, indevidamente compenetrados em sobreviver em circos perigosos de parafusos caducos cor de telha.

Só sei que percorreremos as veredas do espaço, não de qualquer espaço, porque qualquer espaço de força gravitacional ainda não foi comprovado cientificamente, mas de espaço sideral.
da poeira cósmica, do buraco negro, da falta de leis, das estrelas... sinestésicas fantasmas (semi-mortificadas).

Sopraram em meu ouvido que a ideia esta no ar, não esta ideia, qualquer uma, seja ela infrequentável ou não. Uma força fotográfica fixa a ideia em mim como uma imagem 3D. Percebo-a em perspectiva de mundo; de um mundo assolado por mídias regraváveis.

Preveem; lhes pergunto: Alguém me entende? com tanta falta de acento?
A comunicação esta ai, esta pairando querendo nos dizer alguma coisa...
onde estão os ORIGINAIS? ou o que quer que sejamos

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

sonhando acordada


memória e esquecimento
o mundo de
ahh! como é bom
eu vejo tudo
com mãos aveludadas

PAIXÃO SEGUNDO prazer esfumaçado


tédio insuportável.

prazer solitário com cigarros quase enfileirados.

uma abaulada cadeira de vime espreitava um jardim de pedra, planície imóvel.

vigília constante como instintiva noção do espaço, desguiado por perninhas confusas.

o corpo estático e cortante assume posição de ataque.

deitada em horas desbaratadas, espero, espero... o momento certo...

o momento de PULAR... PEGUEI!

pressiono-a sob força controlada. dou-lhe chance com um suspiro de esperança; ela corre embriagada com a vontade de outros que já estiveram assim.

acho graça

cócegas latentes quase pequenas.

às vezes nunca, uma compaixão pulsava demasiado estranha.

queria entender porque essa obsessão? só com elas, sempre com elas.

Asquerosas e Crocantes como outros que já estiveram assim.

patadas bruscas e suaves para ganhar tempo, arranhões dissonantes a suspendiam levemente do chão, petelecos levitantes, rodando, escorregando, encerando.

subitamente encararam-me quatro olhinhos amarelos; revidando descobri uma estrutura semelhante a um óculos - óculos de silicone oval, as hastes negras.

“Só estava indo dar comida para meus filhotes” divergiu no ar.

senti um enjôo tremendo borbulhando do estômago.

lembrei de meus amores líquidos, amores que se vão, algo sempre em correnteza.

Me Perdoe senhora, pensei.

Clarice – respondeu.

Já ouvi este nome!

Não importa,

desisti de ser na hora e com gritos de insatisfeção!