ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

o gosto salgado do mar de lágrimas banhado em sangue

criança e o sentimento de não estar totalmente. não sabia dizer, só sabia calar. a vida um não-lugar, e por nada ter, não tem nem mesmo recordações, nenhum projeto. perdido no umbral do deslocamento do sujeito. o ensimesmamento, o gesto de curvar-se sobre si mesmo, o rígido corpo um cilindro jogado no vácuo, flutuando sem oxigênio, sem pensar no ontem nem no amanhã, definhando.

crendo em deus, concentrando a fé em seu deus, postura atônita e absorta, toda a energia idólatra delirante revertia-se em uma vontade, o ruído de uma voz quase imperceptível vinda do de dentro: "vá pegar eles!" estágio máximo e enfurecido do transe - mórbido mantra.

ele levanta decidido e extravagante e vai... vai predestinado a cumprir sua resignação, move-se lentamente, irreversível.
"sim! as virgens me dariam o banho prometido."
conseguiria limpar o nome que há tanto não lhe pertencia. nos meandros de um labirinto escolheu suas musas uma a uma, as guardiãs do paraíso... o caminho. nele, seria pleno. o presente feroz e crônico que se realiza no futuro. o último círculo. acordaria do sono da morte e iria para a vida.

a escola, duas armas, 32 e 38, a chuva de balas... e ele é visto rindo... ele que nunca é visto rindo, mas desta vez, era deus, soberano de tudo sobre todos e acima de todas as coisas. era o seu deus. estava possuído, em sua força nada o ameaçava... foram dez virgens, escolhidas friamente. matou também um garoto, todos mortos com tiros na cabeça ou no peito. gozava a sensação narcótica da vingança, o sabor de ter tudo nas mãos. obscuro numa espécie de bolha era ignorante ao grito aterrorizado das crianças.

quando os policiais chegaram foi tocado por uma sensação muito estranha, quente, leprosa, olhou em volta e percebeu e sentiu pânico de ser quem era. teve medo de seu destino, correu atirou atirou atirou. dois tiros acertaram seu peito, caiu no chão e foi se arrastando para um canto da escada, achou um vidro que dava para ver seu rosto, estava podre, vermes brotavam dos olhos e lhe corroíam a pele em decomposição

diabo diabo diabo... enfiou a arma em diagonal no céu da boca e pá...
encontrou a si mesmo


Quinta-feira, 7 de abril, logo cedo. Escrevi esse texto para nunca mais esquecer... doentio e cortante

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