ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

chá de Alice



olhar distante procurando uma coisa que não reconheciamos, tentava me comunicar falando alto, cutucando os braços, fazendo firulas, movimentos bruscos... mas os olhos não eram ele; o corpo de faquir, a pele ressequida, olhos sem brilho, apáticos, buscando brilho em um canto suspenso do quarto

segui a direção de sua visão quase infantil, não era nada, para mim, apenas um teto contornado por um cano verde de oxigênio e outro amarelo de ar comprimido, e mesmo assim parecia haver alguma coisa

imaginei que aquilo que tanto o entretia não vivia no canto suspenso do quarto, era coisa do de dentro; mergulho profundo no oceano de si mesmo, lugares antes nunca visitados, ignorados pela correria do dia-a-dia imperador, o tempo engolidor de corpos

labiríntico, o agora se faz agora

o marasmo medroso de reconhecer a criatura moradora daquela Casa que é sua... onde foi que perdeu o referencial de si mesmo? será que um dia soube por poucos segundos o que realmente foi? e pra quê?

a respiração ofegante inchando o peito pontiagudo por ossos cansados de tentar, o pulmão angustiado de saber que essa luta não é mais dele.... mas existe o outro, aquele que sofre, o carcereiro que deseja a permanência; a consciência então clama por ações do ator peregrino em terra árida, deserto imenso, monólogo sem pláteia

os aparelhos representam um humano demasiadamente humano, alheio à vã filosofia da vida, que se esvaindo assume proporções, conformações semelhantes para todas as criaturas do mundo... deixam de existir características singulares, quebram-se os paradigmas, há transgressão das regras e leis, uma nova perspectiva dos valores; todos somos um

sensação de formigamento, coceira como se milhões de insetos invisíveis caminhassem sobre a pele impunemente, a boca sempre aberta denunciando a respiração quase desesperada, não fosse o ritmo lento e desregrado

da janela, palmeiras imperiais gigantescas, robustas, agrediam com sua imponência de viver; sentia-me cada vez menor menor menor menorzinha
ínfima... achei ter bebido o líquido denso de Alice

2 comentários:

floratomo disse...

drink me!!

floratomo disse...

se este é um diálogo com deus, que seja um monólogo entre os mortais. e sem platéia.