olhar distante procurando uma coisa que não reconheciamos, tentava me comunicar falando alto, cutucando os braços, fazendo firulas, movimentos bruscos... mas os olhos não eram ele; o corpo de faquir, a pele ressequida, olhos sem brilho, apáticos, buscando brilho em um canto suspenso do quarto
segui a direção de sua visão quase infantil, não era nada, para mim, apenas um teto contornado por um cano verde de oxigênio e outro amarelo de ar comprimido, e mesmo assim parecia haver alguma coisa
imaginei que aquilo que tanto o entretia não vivia no canto suspenso do quarto, era coisa do de dentro; mergulho profundo no oceano de si mesmo, lugares antes nunca visitados, ignorados pela correria do dia-a-dia imperador, o tempo engolidor de corpos
labiríntico, o agora se faz agora
o marasmo medroso de reconhecer a criatura moradora daquela Casa que é sua... onde foi que perdeu o referencial de si mesmo? será que um dia soube por poucos segundos o que realmente foi? e pra quê?
a respiração ofegante inchando o peito pontiagudo por ossos cansados de tentar, o pulmão angustiado de saber que essa luta não é mais dele.... mas existe o outro, aquele que sofre, o carcereiro que deseja a permanência; a consciência então clama por ações do ator peregrino em terra árida, deserto imenso, monólogo sem pláteia
os aparelhos representam um humano demasiadamente humano, alheio à vã filosofia da vida, que se esvaindo assume proporções, conformações semelhantes para todas as criaturas do mundo... deixam de existir características singulares, quebram-se os paradigmas, há transgressão das regras e leis, uma nova perspectiva dos valores; todos somos um
sensação de formigamento, coceira como se milhões de insetos invisíveis caminhassem sobre a pele impunemente, a boca sempre aberta denunciando a respiração quase desesperada, não fosse o ritmo lento e desregrado
da janela, palmeiras imperiais gigantescas, robustas, agrediam com sua imponência de viver; sentia-me cada vez menor menor menor menorzinha
ínfima... achei ter bebido o líquido denso de Alice
2 comentários:
drink me!!
se este é um diálogo com deus, que seja um monólogo entre os mortais. e sem platéia.
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