ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

sonhos brumos

VAI VER ESSE FILME DE NOVO?
AHHH! VAI DORMIR...

Ela tentava, mas aqueles pequenos sons não saiam da sua cabeça, como formigas que alimentam um formigueiro. As imagens eram tão reais, que lhe davam espasmos pelo corpo. "Eu tento dormir, eu juro que tento, já tentei muito, tanto, que as vezes durmo pelo cansaço... o corpo dói tanto... parece tombo de bicicleta ou aula de natação no inverno."
As sensações eram parecidas, uma de fora para dentro e a outra de dentro para fora. Um dia, vários insetos voavam em volta da lâmpada, como sempre em muitos dias acontece, mas naquele dia, naquele único dia, aquilo começou a dar uma raiva, uma ânsia... Levantou da cadeira, sentiu a presença da irmã no último quarto. Quando olhou para o fim do corredor ficou estarrecida. Pôde ver somente uma cabeça flutuante e esfumaçada...
Irmã? O que aconteceu com você?
Eu não sei. Só dá para ver minha cabeça, não é?
É sim!
Engraçado, de uns tempos pra cá, tenho sentido só ela mesmo, pesada e enorme.
Mas você está bem?
Não muito. Um pouco aérea.
Estou vendo! (olhos esbugalhados)
Está muito na cara?
Na cabeça... é... vamos dar um jeito.
Na conversa, as pernas da pequena tremiam feito duas varas verdes em tempestade. Foi então que a irmã deu um passo a frente, e ela pode ver seu corpo inteiro, inteirinho de preto, dos pés ao pescoço, até luvas e sapatos pretos, parecia esperar um ritual mórbido.
AHH! Que alívio. Achei que fosse um daqueles sonhos que tenho, mas não é.
O que?
Nada de mais... só uma viagem da minha cabeça. (uma lágrima molhando a gola)

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