ÁGUA NEGRA °° 3 elemento
Avistou o ganso no centro da laje. O animal garboso dava-lhe as costas para receber sua admiração. Começou achar a pomposa criatura até jeitosinha: “Minha tia era assim igual branca de neve”. Não se conteve e pegou a chamar Camilo: “Psi psi vem cá bichano vem, não vou te fazer mal”. O ganso acostumado com todo tipo de gente foi na melhor das intenções. O homem suspendeu o animal até a altura do peito e fez um carinho malicioso em sua cabeça de anatomia e maciez esplêndidas. No ímpeto do alvoroço, colocou o bicho dentro da caixa d’água, que há esta hora já estava quase cheia com a água bombeada do poço, comum nas casas antigas da região. Camilo parecia muito feliz com aquele banho inusitado, também não era para menos, o relógio marcava meio-dia de um sol escaldante no apogeu do verão. O racional e o irracional entrelaçados naquela situação envolvente se identificaram e se completaram. Sustentavam-se em sua incessante alegria. Espécie de sonho, novos aumentos de amor.
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