ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

em alguma Caixa d` Água


ÁGUA NEGRA °° quase 2 elemento

Enquanto Ian e o sócio ocupavam-se de outros afazeres, o limpador de caixas se viu sozinho no terraço. Então aproveitou o momento para puxar um fuminho, daqueles “boldinho”. Logo chapadinho, começou seu trabalhinho. Retirou a tampa de fibra e assombrou-se com a parede, estava praticamente lisa. “Isso é impossível!” Havia somente alguns musgos tímidos, subdesenvolvidos. Nunca lhe acontece nada; mas um dia... O homem confuso ficou até encabulado, pois nunca enfrentara uma caixa d’água tão limpa. Por um segundo, foi incapaz de saber por onde começar. Sabia que precisaria arrumar um jeito de otimizar seu tempo, o qual de forma alguma poderia ser muito curto ou então desvalorizaria seu trabalho, há muito desvalorizado.
Lembrou-se das vezes que por raiva dos patrões removera o lodo do jeito que são feitas as coisas sem capricho. Antes de começar o procedimento, ao olhar novamente a parede concluiu aliviado: “Nunca fui tão bem tratado”. A não ser naquelas vezes em sua infância nas quais sua tia deleitava-se por acariciá-lo dentro da caixa d’água. Pensou ter escolhido esse trabalho tão indesejado devido a sua nostalgia pungente e necessária à vida, porque devia ser bom também em outras situações, vai saber.   

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