ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Era uma velha louca, matrona.
Esbarrava em todos pela rua pelo simples fato de se sentir gigante, gigantesca. Obelisco. Passeava para lá e para cá. Não tinha nada para fazer, sempre escolhendo a vítima...
O marido, um coitado, todos os dias de mãos sujas; de manhã, placa ambulante, à noite, burro de carga.
A velha, um ser sem destino pelas ruas cosmopolitas do mundo atacando pessoas com sua bunda enormemente frenética.
Nunca se cansava, chegava em casa e ainda tinha fôlego para atazanar o marido, velho desgraçado, vou estourar sua cara... seu monte de merda, e ele, aguentava quieto como se aquela fosse a última pessoa da face da terra.
Dia como outro qualquer, saiu de casa a barreira humana a fim de jogar transeuntes no chão...
e hoje, estava tão inspirada, mas tão inspirada, que precisava de alguém feito aquela criancinha que certa vez conseguiu quebrar o braço.

ahahahahaha! interioriza um riso sombrio e grave, conseguindo dissimular o prazer do ato. Os olhos transformam-se em duas bolas de gude umedecidas.
A mãe a consola como se a criancinha fosse culpada de ter cruzado o caminho da pobre senhora.

Contemplava a rua cheia de pessoas atemporais raios coloridos comércios enfestejados imundice sinal quebrado carrocinhas subjugando os espaços públicos sarnas papelões e latas
Lá está ela! a perfeita jovem esquálida que procuro.
E a sacola três vezes maior que ela, um prato feito.

Ficou observando, espreitando, contando os passos da presa.
A menina estranhamente não saia do lugar, andava em círculos como se fosse fazer uma coisa que já tinha perdido o sentido há muito tempo.
A velha esperava o momento certo, se fazendo.
Lapso, num surto psicótico, a menina começou a apertar desesperadamente o botão de um aparelhinho que ela carregava na mão.
Aquilo a distraia fazendo tudo parecer congelado... não tinha mais ninguém na rua,... só ela... a terra parou em seu botão.

Agora...
A velha andou acelerada desbravando gentes de todo tamanho, seguiu uma linha reta em direção a menina e a arremessou longe...


Apenas uma pontada, como uma picada de mosquito ou de fina agulha de costura.
Um buraco enorme
pessoas para todo o lado
sangue, braços e cabeças rolando em trapos
muita fumaça nos olhos semicerrados

o que?
muito obrigada!
o que?
a bomba...

E a luzinha esquálida voou para longe,
ela ficou.


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