ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

o lado inesperado da sombra



assustei-me com o tamanho da sombra que projetou-se na parede. era obscura com proporções de figura mitológica
a garganta rachava como se fosse o chão rubro do sertão, rachava em cruzes diagonais
pontiagudas
felinamente em brasa
a ardência do seco, do ressecado
o desespero do mal-estar físico apoderava-se do meu corpo
tremia naquele absurdo de não saber exatamente aonde estava

navio de pedra outrora fantasma, vagando indeciso, em marés de chocolate tão sujas mais tão sujas, que de chocolate o petróleo subia aos olhos
de quem vê e de quem sente
animais cristalizados sem saber a qual tempo pertencem, porque no fundo daquele mar não pertencem a nenhum lugar, não-lugar... quem sabe?
continuo vagando e o vento assovia a aurora, que chega inútil, infantil, obsoleta
esqueceu-se que há muitas décadas perguntou: e quem vai lembrar de mim? Ah sim! estão vendendo encaixotada ou em lata,
ai fica mais barato.

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