ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

domingo, 5 de outubro de 2008



Não tenho mais pele
só me resta o ressecamento
do rosto entrevado pelo tempo







É madrugada... mais uma vez
recebo a visita da obstinada companheira
que me corta as pálpebras em absoluta solidão
Minha estrutura de homem cai comum chiado
a ressonância insuportável das cordas



Deitado em octaedros de pedras
Iludido por um fino lençol verde musgo
Não consigo, tenho que me manter acordado
Levanto arrastando um pouco o lençol
Abro um livro com uma capa de pessoas azuis, um pouco estranhas, derretido, escorregadio.


Uma delas aspirava um cigarro enchendo os pulmões, de maneira que seus seios avolumavam-se por sobre o decote de renda portuguesa; as pernas cruzadas, alinhadas em diagonal.
Aaah (gemia! e como) desenvoltura singular, num voluptuoso biquinho, tragava magistralmente o cigarro

Tinha uma piteira enorme e negra.
Sempre tive esse sonho: uma piteira enorme e negra.
Dizem que é coisa de mulher!
O charmoso mistério da mulher está no cigarro... ou na piteira?


Uma vez, estava quase crescido, uma menina chamada Paula me disse: “você é um garoto simpático, e mais nada.
Entre aborrecido e contente pensava no “mais nada”. Talvez fosse melhor que ser simpático; nada impressionante.
Pobre moça. Vivia escondendo sua feminilidade com tenizões, camisas estampadas e jeans.



Coitada.


começo a ter pena dela, talvez quisesse ser outra pessoa
Sentir de outra maneira, pensar outra coisa...


Um lugar estranho a sedução
Sempre tive esse sonho: ser sedutor
mas Como? Cheio de pêlos nas costas.
Arrancaria um por um se fosse possível
Eu vivia de camisão para esconder minha masculinidade.

Começo a ter pena de mim pra mim.

Sempre tive esse sonho: um lugar escuro, desconhecido. Lá não se sabe o que se pode achar. Inconsciente de meus atos. Sempre acordava do mesmo jeito
Com o mesmo livro aberto na mesma página. Não sei o que está escrito naquela página, normalmente, só me recordo da capa.
Ao acordar, folheio o livro... sempre no canto direito da página não consigo me lembrar do número.
tem uma marca de caneta, um simples traço ininteligível; olhando para todos, apenas formam um grupo de traços desconhecidos entre si. Ninguém sabe para que servem, nem para onde vão. São só traços. desprovidos de elo-elo-elo
Mas o nome do livro (esse sim) pode ajudar em alguma coisa: os prêmios, algo assim

Um comentário:

Anônimo disse...

um não-eu sem limite que perpassa por vários eus que são pele, cheiro, encontros......
Marilene (mamãe)