ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

castelos de areia

        Society Women as Goddesses, 1935, by Madame Yevonde

Mrs Edward Mayer as Medusa


Com a chegada da primavera, vestiu a roupa de leoparda, cingiu o elmo e seguiu em batalha. Sozinha em longa vigília. Armada de pele guerreira, conquistava reinos em diferentes pradarias. Seus feitos eram narrados em fogueiras pelo mundo. O perfume corria pelas encostas. Morava no coração de cada menina corajosa. Desejavam seus negros cabelos acariciando-lhes a face pueril.  
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando almejou reinos proibidos, Casas que não lhe pertenciam, redutos marcados pelo amor. Ela não podia amar, disso sabia, sempre soube. Escolheu ainda criança. A profecia então se fez; seu destino estava traçado. Mas descobriu tardiamente, à margem. A garganta um pouco seca, olhos sanguíneos, não haveria mais volta mesmo para ela, mulher poderosa, imperatriz de suas vontades e de íntimo exército ...   lamentou a única coisa que jamais conquistaria: o amor.
Insistiu de todas as formas; amputou cabeças apaixonadas, arrancou corações pulsantes, sugou corpos de sangues róseos... tudo, tudo para consolar-se a si mesma. Tudo por não estar mais distraída. Assistiu decadente seu império desmoronando. E nenhum choro curou seu esforço...
Naquela tarde os castelos que cultivara foram levados pela brisa impiedosa do mar, esvoaçaram arenosos com o último alento vermelho     

Um comentário:

floratomo disse...

ai de mim que sou dramática..