Modelo criado por Jum Nakao
Ando pela rua já quase cega. Calor escaldante de janeiro. Pessoas cruzam derretidas num deslumbrante bater de asas. Correm na ânsia de chegar, chegar a algum lugar. Não sei ao certo se é isso mesmo. As vejo sobre a postura dos volumes externos com visão precária. Mas percebo que respiram de antemão o ar que estava à frente. Expressões carregadas pela poesia do corriqueiro. Entretanto adormecidas ao entorno de magia inexplicável das cores. Descontroladamente a procura de impor um pouco de rotina e lógica a vida. Pensei: gosto das pessoas, gosto de mantê-las por perto, observá-las, saborear a cadência dos gestos, ir de encontro a seu sopro de vida. A saída da barca é engraçada. Lembra-me uma porteira sendo aberta enquanto algo ou alguém de tudo faz para alinhar a boiada. O mar de gentes. Penso se cada qual vive sua vida, se acredita piamente ser quem é. Às vezes me parece que ninguém se mostra como é realmente. Tristeza de molhar constantemente os olhos. Talvez não exista na espécie humana um existir por inteiro, perpétuo. Há mutação, mesmo renegada. Por um lado é bom, acho. Até eu, na alegria de ser quem sou, minto, imagino uma personagem como para todas as outras pessoas. Mas isso não acontece com a porta, cadeira, nem mesmo com o computador, dito senhor da precisão. A garganta um pouco seca de espanto, nem eu sei se sou eu ou não que confessa não saber. Seria ótimo se cada um escolhesse, hoje quero ser gentil, amanhã louca, depois depravado, inseguro, super-herói, intrigante, reticências, palhaço, semana que vem diretora, insalubre, prolixa... amante.... Amo a vida! E ter toda essa sede de destrinchá-la é a minha própria água. Queria que fosse também a delas(es). Ih! Como sonho coisas impossíveis.
Um comentário:
Maravilhoso!
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