“...Por começo, a criancinha vê os objetos invertidos, daí seu desajeitado tatear; só a pouco e pouco é que consegue retificar, sobre a postura dos volumes externos, uma precária visão. Subsistem, porém, outras brechas, e mais graves. Os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim. Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente... E então?...” O espelho – Guimarães Rosa
“Você nunca termina um livro, você os abandona.” Oscar Wilde
“...Úrsula, já quase cega, foi a única que teve a serenidade para identificar a natureza daquele vento irremediável e deixou os lençóis à merce da luz, olhando para Remédios, a bela, que lhe dizia adeus com a mão, entre o deslumbrante bater de asas dos lençóis que subiam com ela, (...) e se perderam com ela para sempre nos altos ares onde nem os mais altos pássaros da memória a podiam alcançar..." Cem anos de solidão – Gabriel García Márquez
“Devo meu sucesso a ter sempre ouvido respeitosamente os melhores conselhos, e depois ter feito exatamente o oposto.” G.K. Chesterton
“El método inicial que imagino era relativamente sencillo. Conocer bien el español, recuperar la fé católica, guerrear contra los moros ocontra el turco, olvidar la historia de Europa entre los años de 1602 y de 1918, ser Miguel de Cervantes.” Jorge Luis Borges
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.” Clarice Lispector
Cada um fla um coisa ; onde você entra . . . ?
Misteriosamente em todos! Morro de inveja porque disseram tudo que eu poderia ter dito. Penso muito sobre a ânsia de ser escritora. O que, aliás, já sou! Entretanto vivo em trancos e barrancos tentando convencer as pessoas - as significativas somente, mãe, pai, irmã, bláblá, - que de fato nasci para isso e que se não fizer disso a minha vida, ou pelo menos tentar fazê-lo, prefiro renunciar a qualquer tipo de existência. Vagaria sonâmbula carregando no peito um tipo de tristeza represada num olhar profundo constantemente choroso.
Pensei naquilo que disse, por que eu, por quê? De tantas primas, irmãs e até leitores desconhecidos... por que justamente eu vim com essa maldição? Ouço vozes diariamente e se não expurgá-las de alguma forma, sinto que posso explodir, ou enlouquecer (se já não estou louca). Preciso lidar com essa esquizofrenia de um jeito natural, fingir que isso é comum a todos, não um privilégio só meu. Então é assim: acredito que as cabeças do mundo inteiro nunca desligam, funcionam engrenadas por delírio dialético desenfreado. Pairam eternamente no mundo das ideias, desbravando seus caminhos e acreditando ser essa a única forma de experienciar o real, ou o que se quer dele. Não estou nem pensando em Platão, ou devo estar, sei lá. Mas a questão é que sempre tenho uma questão sobre as coisas, e isso acaba me deixando prisioneira. Sofro a dor do mundo, das crianças de ruas, dos ignorantes, dos subjugados, das freiras, dos desgraçados, bêbados, loucos, putas... E eu? Eu estou maluquinha, te confesso. Agora que comecei o projeto do livro parece que o todo gira em torno dele. Como descobrir uma nova galáxia, e o livro, o sol. E pior é que nem sei aonde isso vai dar, tenho um pouco de medo, um medo corajoso, mas medroso também. E se ele não sair da gaveta, no caso, do computador? Virar um arquivo morto, que daqui a anos não merecerá nem um backup. Para onde vão os livros que não são editados? Será que um texto deletado, perdido, toma forma de outra coisa? Evapora e encontra na vasta dimensão da Terra nova vida? Seria tão mais fácil ser uma daquelas gostosas que aparecem na tv domingo. Se há bunda, pra que cérebro? Pensar dói, escrever fere. A chaga aberta, fratura exposta que me faz compreender por vias metafísicas, de modo inumano, que não há mais volta. Estou fadada, você sabe.
Carta desabafo. Foda-se!
Thati Verthein
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