ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A lenda do pênis de lápis e da buceta mil folhas

Sex, 1992. Madonna and Steven Meisel


A rua era toda cinza sempre do mesmo jeito, olhares sorrateiros e dias passam...Os dias monótonos, e eu fui ao supermercado. Andava canalha, uma cortina densa, a bolha. Não enxergava nada, andava espantalho, boneco de títere. O diálogo com mãos estranhas e aveludadas me guiava, despia caminhos possíveis ou antes já vistos. Fantásticos. Um apê todo montadinho, sofá bem confortável, isso tem que ter. E churrasqueira. Porra é muito foda! A galera tomando umas cervejinhas... Ih caralho! Passou a entrada da loja.


Tenho certeza que tem alguma coisa a ver aquele porco, por que passou na minha frente de madrugada? - Você está surtada! O animal nem olhou para você. - Mas reparou minha presença, estava devorando faminto repolhos tomates alface cascas cascas madeira podre ossos ossos, quiça de gente, o banquete e ele sozinho insaciável. Quando passei, ele foi ficando nervoso endiabrado, continuava comendo desesperado, senti sua fúria, fiquei até com medo, alguma coisa vai acontecer, qualquer coisa de sendo.

Boa tarde. Ouvi esssa coisa de porcos eu adoro porcos. Hoje vai rolar uma cervejinha lá em casa. Talvez você... sua amiga, mais algumas amigas. Meu tio criava um porco muito bonitinho, um belo dia ele matou o animalzinho e depois chamava o bicho de Jesus dizendo que o porquinho era muito iluminado. Lembro do animal todo ensanguentado no chão, gritava igual gente. Atormentado por todos os tipo de pesadelos.


O quê?O foi foi? Estava ouvindo a nossa conversa? Desculpe, meu caro, eu te conheço? E o que está dizendo? acha que alguém da minha família vai morrer? Você está louco? Por quê? Os legumes do porco tem relação com minha aversão a comida? Por acaso eu vou morrer de inanição? Está louco? Acha que não dou conta da minha vida? Você tem alguma coisa a ver com esse porco? Eu já te vi antes não é? Eu te conheço... eu te conheço, foi você que passou outro dia na esquina perto da loja de macumba? Era quem falava aquelas coisa quando eu era criança?


Ela era fantástica. Só podia estar interpretando, nunca vi pensamentos tão rápidos. Já tinha a história toda em sua cabeça, e nós nunca... essa mulher! Quem será ela? Se mexe como uma louca desvairada. Deve ter um mundo de fantasmas nesse corpinho. Sou Luciano Incandescente, escrevo contos sobre horror caseiro. Não gostaria de conversar um pouco? Um bom vinho, conversaríamos sobre qualquer coisa, assim... o que vier na cabeça, que tal? Adorei conhecê-la, gostaria de explorar sua mente brilhante um pouco mais a fundo.


Fundo? Luciano Incandescente? Luz que queima? Coisa mais estranha? Chegamos no supermercado e? O quê? Nada? Meu nariz sangrou hoje de manhã e o seu? Acha que o clima está seco? Insuportável? Desprezível? Infantil?... Vamos amiga? (para a quietinha ao lado) Daqui a pouco vai dizer que quer nós duas? Que teríamos a experiência mais impressionante de nossas vidas? Que tudo mudaria em nosso mundo? Veriamos a completude.... ou o verdadeiro sentido da vida? Meus Deus? (para o cara)


Você já fez cinema? Talvez como atriz. Você é muito gata, mas não. Vamos pensar em histórias, como uma simples história, uma ficção inventada por você mesma poderia mudar o seu mundo, ou o mundo, ainda como um mundo menor dentro do seu. Seriamos ou seremos? Os dados estão a sua frente. Escolha o que de melhor enxerga. Adoro. Juntos encontraremos sim o nosso espelho. Nada mais há de funesto. Somente olhos dilacerados pelos braços que se entregam a mim na vontade de serem meus, nesse jogo de sedução incandescente, que no meu caso é em dobro. Hoje, só hoje. E vai saber.


Sempre ataca as mulheres no supermercado? Isso é uma prática sua? Veruska Ur..., volta aqui... Úrsula? Viu o que você fez? Todas são assim para você, né? Pensa igual a um garanhão adolescente? Imagino aquele menino playboyzinho, não era? Assim: sempre em cima daquela gostosa da rua, os seios aureolados, silhueta languida completamente rebolante, quando o broto descia a rua, requebrava feito um croqui de pin-up, a cintura alinhando os quadris perfeitamente. Você dopado, pois podia sentir de longe o cheiro do sexo dela. O núcleo da devassidão celestial. Quase não tinha cabeça, era apenas uma área pubiana independente de qualquer outra coisa que emergisse do espírito. Encontraram-se... festa? Viajem? Não, bem simples, os dois eram sonâmbulos e esbarraram-se na rua. (tom sarcástico) Tipo... dois sumbis, o que acha? Perfeito? Olhou para ela, ela olhou para ele. Uma gota de suor escorreu molhadinha pelos seios dela, era encorpada, ela também, mas a gota. Como eram sonâmbulos, quiseram fingir que sonhavam e foram até o chafariz no meio da praça, fornicando, se apertando angustiados pela ânsia de se reconhecer pelo toque. Caíram na água leves como pluma. As mãos dele percorriam o corpo dela escorregando no vestido e marcando a coxa com um vermelho de unhas. Ela dava gritinhos acariciando o pescoço dele. Tudo aquilo era possível, não passava de um sonho. Juntos cultivavam o álibi. Arrancaram roupas enlouquecidos, balançando a cabeça como se possuídos pelo demônio do prazer. O calor do corpo refrescava a água que num eterno retorno banhava-os imprudente. Ele abriu as pernas e desbravou o caminho do objeto de desejo. Estranhamente pensava em coisas como: existem extraterrestres? o que faria se ela fosse um deles e tivessem um filho? Pensava absurdos espetaculares e o pênis em riste, belicoso. Entrou numa viajem intergaláctica e viu o filho deles meio extraterrestre, meio demasiadamente-homem. Imerso nessa experiência bizarra dissociado de seu corpo que trepava faminto no ventre da moça. Então percebeu a possibilidade de provar se quisesse que alma e corpo podem se desligar do cérebro, eles não dependem do cérebro, entende isso? Entende a magnitude disso? Precisamos do cérebro pra tudo. A delícia, a penetração macia, desuniu pensamento e corpo. O homem irracional viu o sexo misturado com o amor, com algo que não nos pertence somente. Capaz de mover a tudo. Aquele corpo antes só corpo agora transformava-se numa coisa imensa quente e úmida. Nos múltiplos lábios, folhas e mais folhas de pele, o membro deslizava corajosamente, introduzido no frenesi das carícias de um tufinho de pentelhos. A mulher sentia o toque do pênis como fosse um lápis de ponta bem apontado. E aquilo lhe dava uma emoção intrigante. Reconheceu em si mesma a predisposição de remexer como nunca antes. Rebolava e rebolava. Redescobriu sua descendência de mulher da vida, de mulher primordial, sensitiva, sempre sendo. Todas as mulheres tem um lapso instintivo na intimidade. Estava preenchida, engravidada por uma energia voluptuosa, sem escrúpulos. Estágio evolutivo do prazer, do cosmos. O chafariz, o proibido, as mãos apertando os fluidos, tudo a fazia pensar nas maiores escatologias. Comia o órgão ereto do parceiro numa belíssima mesa de jantar com inúmeros modelos pelados em poses flexíveis. Imaginou que sugava o Incandescente para dentro de seu ventre e ele enlouquecido, rabiscava as paredes do útero, como se estas não servissem para nada, apenas para alojar um feto. Ela olha para si e vê nos braços feridas crescendo horripilantes. Lembravam cortes delicados a navalha. Iam aparecendo e formando um desenho. Palavras. Assombrada pelas palavras que brotavam de sua pele feito bordado em tecido, empurrou Luciano e correu, correu mais que as pernas pudessem aguentar. E o ginógrafo estatelado viu fugir sua fina estampa. A profecia profetizara-se. Nunca mais aquela história seria reescrita. A excitante lenda do pênis de lápis e da buceta mil folhas.

Enquadramento fabuloso!

2 comentários:

floratomo disse...

eu estou grávida de um álibi..

Anônimo disse...

borracha abortada!