ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

domingo, 6 de julho de 2008

ÁGUA NEGRA - um brinde de cianureto


Ao acordar, visou tomar um banhinho para relaxar os ossos doloridos. Quando abriu o chuveiro, sentiu uma sensação demasiado estranha: “Será ressaca?”. Era como se a água fosse metálica e em vez de acalmar estava agredindo-o, pesada, de densidade pontuda, incomodava desesperadamente a cada poro de seu corpo desnudo. Na mesma hora fechou o chuveiro, enrolou-se na toalha rosa felpuda e foi até a pia que lhe causara tantos problemas – a fonte do líquido infernal – com o intuito de verificar o que se passava. Abriu com a mão tão decidida que o fluxo de água mais parecia uma chuva de granizo. Batendo na borda da pia e ricocheteando em seu rosto intrigado. Numa medida desesperada para curar a angústia, começou a abrir todas as torneiras e chuveiros da casa, cada girada de registro, cada abertura uma pontada mais aguda, fundo no peito. Parecia estar sendo perfurado por agulhas invisíveis de dimensão e material desconhecido. Árduo em meio ao surto tomou generosas gotas de um remédio para dor de cabeça. Engolia a todas de boca seca, extremo porque sua aversão a água impedia-lhe de ingerir o remédio dissolvido como estivera acostumado desde sempre. A situação desumana parecia fazê-lo ingressar em outro universo, inebriante, desprovido de leis físicas das quais estava imbuído. A torrente de água ensurdecedora, se pudesse falar, talvez fizesse um apelo: “PIEDADE!” O crânio encharcado latejava taciturno, murcho, impregnado por moléculas de água estranhas à sua conformação humana. Sentia um tipo de mutação desencadeada por dor inefável, e em intervalos estalados, esta se transmutava em mórbido prazer. A experiência arrebatadora acabou por fazê-lo desabar no chão como se entorpecido de alguma substância irreconhecível. Apagou durante horas, ou anos.
Sôfrego, quando acordou seus pensamentos apaziguaram-se, mas o desconforto permanecia e agora tinha origem externa. A epiderme parecia revestida por camada desigual nunca saboreada por ele. A sensação produzida pela fricção da nova pele proporcionava-lhe cócegas, deixando-o aturdido. Levantou-se subitamente, parecia estar pisando em plumas. Encarou uma bizarra figura no espelho, quase cuspiu seu coração translúcido do que houvera. A taquicardia avançava aos tímpanos: “CAMIILOO!!” Gritou feito louco alucinado criança quando perde o brinquedo preferido. Analisou ao redor e viu o chão forrado pelo tapete de penas incrustadas por água maligna que secara impune. Descobriu as torneiras jorrando penas, penas marcadas pelo sofrimento, pelo fluido da morte: “Tenha dó do meu penar!” Talvez pressentisse que só elas seriam capazes de destruí-lo, egoísta mostro de perversidades, nunca se perdoaria, entregava sua alma ao diabo fortemente, acertando-se ao vazio, no não-fazer-nada a passos lentos para a reles existência.        
Domado pela melancolia, ninguém sabe ao certo quão intensamente aquele homem sonhador permaneceu ali, o semblante no momento estático, regido pelas lembranças, na esperança de acordar novamente e ver que tudo não passara de um sonho ruim. Apagar da memória uma quarta-feira de cinzas cuja brasa imaginária queimava suas ilusões até reduzi-las a um pó tenebroso.


sábado, 5 de julho de 2008

Salamandra gigante colorida

Não há nada a dizer! Só observar...
Tenho chorado muito, vendo filmes, cenas na rua e até comerciais de manteiga.
O mundo só existe, ainda, pelo amor.
Por que não estamos junto dele e com ele?
Por que a salamandra gigante e colorida está nos observando?
ViVER NUM AMOR TRIDIMENSIONAL! livre de espaço-tempo, livre de geografia .
E se vivessemos várias vidas ao mesmo tempo? numa delas somos crianças, na outra, somos velhinhos e numa outra, mais obscura, somos o desconhecido.
Um estado, não de morte ( não gosto de chamar assim), mas de espera, ou melhor, de perpetuidade.
Acredita em pura coincidência?
Eu acredito nos astros e nas explosões que eles sofrem transformando-se em ZONA MORTA.
Lá onde tudo acontece, cada lapso de tempo, cada realidade de paralela transversalidade, pluridimensões coexistindo aleatóriamente, livres de interferência entre as variáveis.
Outro dia, acordava num lugar diferente do normal de onde sempre estive, poderia chamá-lo de... AONDE. Caminhava sozinha e um pouco confusa, foi quando encontrei, na brancura da paisagem, uma árvore muito esquisita. poderia ser um pé de tomate é! dava tomate, mas era gigante, gigantesca. Ao sentir seu tronco tive a sincera impressão de estar sentindo uma pessoa de dorso escorregadio. Peguei um tomate verdinho, mas pelo tamanho, só poderia estar maduro. Analisando a fruta contra a luz percebi que dentro dela tinha uma chave. Não pude morder, guardei o tomate verde no bolso, apesar de estar me sentindo pelada. Rodeando a árvore, percebi que dela pendiam latas de alumínio coloridas, pensei em beber o líquido, que pelo peso deveria ser denso, mas não pude, guardei uma lata no bolso e fui...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Gatinho da Madrugada


A lua cheia e prateada

Emerge entre as nuvens roxeadas

Lança sua força descomunal

A vertigem da sensação

Desatina, alucina

Descompõe a compostura

A mistura racional

Já sem razão

Palpita desritmado o coração

A feição assume algo tenebroso

O corpo deformado e tenaz

Envolve, inebria

Me agarra, me larga

Desconhecido

Se desfaz


terça-feira, 1 de julho de 2008

DOSE BLUE





De um AMOR infreqüentável
nasce um BLUES sem melodia





Amor!
Solta esse ombro
Vou encostar minha cabeça
E abrir a cara de bêbado

Ficou tudo virado
Arrastado côncavo convexo
Meu coração ta esmagado
Até parece sem chão

No ouvido estala um zumbido
Desesperado
NÃO! Não vou te perder, hoje não!
Eu quero você... Ser animal

E vozes repetem
Em miniatura
Moram na orelha dessa criatura
NÃO! Não vou te perder, hoje não!
Eu quero você... Ser animal

As pressões mundanas
Chacoalham a cama
Balançam o crânio
Preciso me exorcizar

Para aguentar, para aguentar! BABY
Para aguentar! BABY