Fica na mesma esquina,
toda arrumada, com duas malas gigantes de viagem. A primeira vez, dei bom dia.
No segundo dia, também. Sempre na mesma hora, metodicamente, estranha. Comecei
a sentir um peso. Será que estava esperando alguém? Parecia perdida. Espera.
Anda de um lado para o outro. Espera. Confere o relógio. Espera. Acompanha um
carro que passa. Espera. Encara alguém que cruza a esquina com olhar vidrado,
como se contasse alguma coisa. Espera. Tem certa poesia naquilo, uma beleza
profunda, um segredo angustiante pela passividade resignada. O peso foi
aumentando, os dias passando, as horas, o tempo. Bom dia! Entontecida olhei
para minhas mãos e vi as malas gigantes, estava toda arrumada, na mesma
esquina, o peso. Espero. Espero alguém? Quem? Será que chega? O quê? Quando?
Deixa ver ali. Que hora são? Um carro... É ela? Ele? Eu?
ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...
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