ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

domingo, 23 de novembro de 2008

Amores líquidos



Um olhar em suspiro de tempo etéreo. Pêlos longos ondulavam-se esbranquiçando a ardósia do chão. A languidez abaulada continuava a mesma... sempre.



De um lado para o outro; de lá para cá, de cá para lá, lá cá, cá lá.

(o rabinho presunçoso).

Numa noite acinzentada, de movimentos espaçosos e carnais, uma imagem esvaiu-se em corpos inexistentes pela ausência do dentro.

Quase atingindo a irmandade de serem idênticos; Cores quentes, Olhares aluados, Felinamente Scorpiones... solo distante, de almas esculpidas para amar, tamanha a beleza de seu desembaraço.

Uma textura acromática derramou-se pelo entorno, tingindo-o com maciez e rugido.

oh! Ohooooohiiiiiiuiiuiui! Aleluiaaaa!


O milagre delicioso da vida. Densamente Acontecendo. rebentos desse mundo que não existia, um mundo sem vontade.

lugar que surge e independe de gênero.

Primeiro abrangem possibilidades e verossimilhança; depois a matemática perfeita, imponderável.

Vega, espantosa genética de gigantear-se em estrela mais brilhante











Tigresa pintada, evolução analogamente ancestral de manchas chapelisticas.








Wiska, fenótipo Ursae por quatro ventos que lhe sopravam aquela predileção.






Menorzinho, pela rebeldia ao apego à consangüinidade. sem permissão para emancipar-se tradicionalmente, eterniza-se em si mesmo.





Apenas um grito, que por ser o mais alto, dissipa-se ao ser dito.










Publicizando sua alma secular e ofegante, vai para a pedra escondida no breu invertido da madrugada.





A matriarca Lua Branca Branquinha Marilyn Moore assiste o pulsar de águas impetuosas e corporificadas, fluindo sem destino ao além-terra.

A vertigem por um fio em espiraL



Sempre chego à escola no mesmo horário.

Sento no meu banquinho, beirando a fonte dos prazeres onde ele se debruça, matinalmente, feito um ritual.

Sei bem que ele vai passar

A qualquer momento eterno, para se banhar de uma água rápida que inunda.

De rabo de olho, capto um milhão de imagens da gota que escorre lúcida.

Se tremo? Não sei, mas chego a ficar anestesiada.

Obvio ninguém percebe porque a conversa flui normalmente. Não mudo nem a expressão, ganho uma capa, um revestimento de cera, o rosto assume uma feição inteira, inesgotável.

O momento é engraçado, como se tivesse que assumir dois corpos: são dois, que se complementam, se dissipam, seguem opostos, retornam e me fundem.

A cabeça até apita!

Final de semana? No caminho frenético do real ao imaginário, digo sim, digo não.
Minha fantasia não era prêmio de se dividir com ninguém...

O sino badalou três vezes.

Cada som de alerta me deixava à espreita.

A lei imposta era: tentar a qualquer custo roçar os cotovelos.

Com passos sincronizados ultrapasso barreiras de gente. Intacta, calculo milimétricamente e entro com toda força na ressaca de ossos sedentos, estranhos, mas que se entendem pelo toque, quase artificial.

A cadeira da frente era grafada com a marca da minha ambição, aquela terra era minha, foi lá que conheci o mundo e me curvei a ele. Talvez não possa ser meu! Mas preciso existir me materializar. Dar um jeito de tocar a testa dele e aparecer, é pura física, lei das possibilidades.


Um belo dia quando a monotonia tomou conta de mim,
sentada no vale da expectativa desmedida, só buscava a face do tempo em que tudo andava devagar, perceptível, insolúvel.


Numa fração obscura, o adesivo da caneta pregada entre meus dedos incomodou. Estava obstinado a tomar aquela ânsia de acontecimentos para si, grudava e repuxava os pêlos invisíveis, reivindicando existência. Com desdém arranquei o adesivo inconveniente. Quanto mais tentava me livrar, mais se aderia à ponta de meus dedos.

Em meio àquela luta interna, a sala começou a se movimentar e preencher seus lugares, como num aviso de alerta: “Ta na hora.”

Já ultrapassava a porta com olhar compenetrado, assim, livre de julgamentos.
Sentei-me corretamente, meus olhos logo mudaram de rumo para iludir indiferença.
Ele, nervoso, deixou cair o apagador, uma nevoa densa veio de encontro a mim e um espirro ensurdecedor saiu descontrolado.

Apertei o nariz da vergonha para que não se repetisse.
Com uma delicadeza espontânea, ele me olhou desejando saúde.
Para agradecer sorri e senti alguma coisa colada em meu nariz.

“Como assim?”

Minha mão involuntariamente tocou uma coisa gosmenta que meus olhos alfinetaram.
Foi minha pena de morte.

“Uma meleca!”

Durante um segundo, pairou este pensamento.
Num outro flash brotou a caneta e o maldito adesivo que foi um intruso em minha vida.

Devo ter ficado horas trabalhando ele, enrolando...
Fazendo-me inteira com a visão do céu e caindo direto no inferno.

“Que ótimo!”

E ele de costas, provavelmente, estava rindo com seus pensamentos:

“Que meleca enorme”

Tava escrevendo até mais lento.

“E essa coisa? Será que ponho no chão? Me larga!

Se bem que... abaixar vai ser terrível.

A cadeira... cruzes!

Que nojo!

Pêra ai? Garota, você ta ficando doida é só uma bolinha verdinha de cola.

Nossa, mas como lembra uma meleca!”

Ai, ele virou de novo para mim, deu o sorriso mais lavado do mundo, despudorado.

Fiquei com as mãos aparentes e comportadas.

Não podia achar que dispensei a prova do crime na cadeira ou na mesa, seria um cataclismo. Precisava ficar firme só mais umas duas horas, talvez menos, talvez mais.

“Eu agüento!”

E se eu fosse ao banheiro? NÃO!

Ai ele vai achar que meu nariz está imundo há horas e eu não tive a coragem de limpar.
Melhor ainda, tenho certeza de que não viu a meleca...

Pior é que com certeza viu!

“Calma só mais duas horas”, meditava incansavelmente.

Já cansada daquela situação nojenta,
tive uma grande idéia: colocar a carrasca bolinha na folha do caderno.

“É TUDO!”

Isso! todo mundo mexe no caderno na sala,
não esfrega a mão na mesa, nem na cadeira, mas no caderno...
Meus dedos foram autônomos, como se estivessem caminhando rumo ao pôr do sol,
em total sincronia.
No meio da discreta folha branca, brotou uma coisa gigantesca que esmaguei impiedosamente com a capa do caderno.

O terremoto estrondoso chamou a atenção geral.
Havia um tempo em que não estava ali e agora estava.

Ele se aproximou lentamente com ar de desaprovação, meus olhos se lubrificaram de vergonha.
Segurou o caderno, eu agonizei.

“Para, pelo amor de deus!” Supliquei em silêncio.
Tentei me manter calma e disse para ele ter calma,
enquanto abria a capa do caderno e retirava uma folha, a folha...

“Essa não!”

Gritei no vácuo, dava passos e mais passos para escuridão no abismo da loucura.
Cada furo que se soltava do espiral me embriagava de vertigem.

Tudo ficou preto, não sabia se era sonho ou verdade.

Acordei em um lugar todo branco, iluminado,
impregnado com um leve cheiro a formaldeído.

“Será que morri?”

Logo veio um homem todo de branco perguntando se eu estava bem, se era a primeira vez que isso acontecia.

Respondi que sim.

Bem,

pelo menos fui para casa e nunca precisei saber o que aconteceu realmente.