ENXERGAVA TUDO PRETO, PONTILHADO COMO SE TIVESSE CAIDO EM UM APARELHO FORA DO AR, CHAPISCADO CALEIDOSCÓPIO NEGRO DE VERÃO. SENTADA NO BARCO CONTINUEI IMÓVEL DE CORPO, POR QUE A MENTE TINHA A VORAZ ÂNSIA DE ESCREVER QUALQUER COISA, QUALQUER LINHA ABSURDA, DESNUDA, AGUDA , FELPUDA, CASACUDA, LÍRICA, TESUDA, CARNUDA, DUVIDOSA, ASQUEROSA, SEI LÁ...

terça-feira, 26 de junho de 2012

Deusa do submundo em seu Ritual

Cleopatra por Daya Gibeli


Ginoliterata. Aos desavisados fingia-se de mendiga. Andava por ruas e ruas falando e rindo. Falava e ria sozinha para iludir indiferença alheia. Nos grandes mercados dos capitalistas é difícil carregar um bem precioso sem ser notada. Era algo reluzente, poderia ser vendido, mas nunca comprado. O paradoxo. A mulher quase cigana de traços marítimos - deusa do submundo. O revoar das horas e os mercadores começavam a recolher suas tralhas. Somente ela, aos poucos, dava peso e matéria, cobrindo o chão com seus frutos. Cantava. Olhares eram descobertos em diferentes pontos. Fixos, fugidios, encabulados. O suculento mistério da mulher. Ela amorosamente descalça, retalhada, com leveza ofertava-lhes suas mercadorias que poderiam ser vendidas, mas nunca compradas. O paradoxo. Mantinha-se ali, debruçada sobre si mesma. Esquecida em clareira aberta para o mundo. Em Ritual flutuando feito um ectoplasma. Batendo tênue o corpo de papel. O frenesi da surpresa e seu sabor. O assombro de todos ao ver surgir o bem mais precioso... Ainda curvada, esconde  um dos braços nas pétalas da grande saia, os dedos em pinça, no fundo, além da brilhante beleza de escuras rodeada de mucosa palpitante, retira embebida, a palavra.  

sexta-feira, 15 de junho de 2012

preâmbulos dialógicos caminhantes rua-ante-rua

No Portão

Bom dia Dona Filhinha.
Dia.
Passeando?
Lutando contra o reumatismo.
Bom... E Seu Nilo?
O homem só dorme, não levanta nem pra cuspir...
Ah, então é bom de cama.
Hoje num chove não. 

No Saara

Ô Moço, é tu?
Sou.
Quanto é o óculos?
R$20
É de homem?
Também pode ser.
Ah não! Quero um só de homem.
Tem esse aqui, lente hi-tech, da moda, do estrangeiro...
É?
Ô! ó a carcaça.
Tá.
O carinha vai..
Meu pai, ele tem rosto largo. Coloca ai pra mim ver. 
Ele é paraíba?
Não é gordinho mesmo... Só tenho dez.
Pó leva.


Brumas Machadianas

Bom dia.
Bom dia.
Tem Machado de Assis?
Claro!
De conto?
Qual o nome?
Poliana e Evandro...
Tem não.Vou ver no google... Aonde viram esse livro?
O professor pediu, é trabalho.
Estranho.... Vera, Vera, conhece Poliana e Evandro do Machado de Assis?
Nunca ouvi falar.
Nem eu, mas a escola deles pediu.
Vixi.
Tem outro Machado, ou outro Assis que escreve conto?
Não! O professor sempre fala desse Machado de Assis, é ele mesmo, Evandro!
Você é Evandro?
Haham.
Poliana?...
Vem cá. Aqui ficam os livros do Machado de Assis, vê ai o que vocês querem.