Era como um sonho: uma porta maciça se abriu...
logo pisamos em azulejos perolados.
Móveis imponentes, coloniais.
O ambiente era climatizado a óleos essenciais de rosa branca, gerânio e cacau.
Deliciosamente agindo no cérebro, sistema de engrenagens límbicas.
Guardamos nossos instintos primários, silêncio de vontade, introspecção.
Nebulosidade.
Do ápice da escada para o centro do hall desciam triunfantes as quatro senhoras, com vestidos floridos e tão coloridos quanto a natureza pudesse suportar. Porque a natureza não era ser bela e sim, elas.
Lançavam-nos olhos curiosos - secreto assombro de tias.
- Que casa magnífica! Parece um castelo medieval.
Moram sozinhas aqui?
- Sim
Olhávamos um para o outro como se algo nos inquietasse.
- é que nunca demos as mãos...
De fato, reparamos que cada qual tinha exatamente duas mãos desaneladas.
Inalávamos entorpecidos de sensualidade e auto-estima.
Seriam elas casais?
agindo, portanto, de maneira indireta como convenientes tias.
Vencendo o medo e a timidez, ele disse com voz empedrada:
- As titias são unidas por laços desatáveis, laços consanguíneos.
Forjavam o mistério das mulheres autossuficientes. mulheres de seio ancestral, equilibradas em vigília eterna; feiticeiras mumificadas no tempo.
Sozinha, tocava-me um sentimento alheio.
Inspirava esfumaçadas lembranças guardadas numa região inefável.
Comecei, de repente, a ponderar as coisas, como nunca; nunca antes.
O que estava acontecendo?
Sentia um tipo de mudança hormonal intensa, como se o cheiro exalado pelo meu corpo mudasse decisivamente.
Confissão:
contorceu-me uma hipervisão insatisfeita, não mais o olhar suave de antes.
Ele borrifava desconexo aerossóis desconfortáveis - quilos e quilos de glândulas selvagens.
desfiz-me surpresa naquele etéreo sinal.
Não era nada, só a certeza do erro.
Porque o despertar afrodisíaco deve partir de íntimos fluidos.
Coisas secretas do amor!
Corporificação
Ou não podemos dar as mãos...